Oferendas não podem virar lixo nas praias


Em 1958, Capitão Pessoa, um umbandista aguerrido, publicou um artigo no jornal O Semanário para contrapor os argumentos apresentados por um sacerdote de outra religião que acusava os umbandistas de sujarem as praias com suas oferendas na virada do ano.

Na ocasião, Pessoa disse que se tratava de uma acusação falsa, pois os umbandistas oferendavam apenas champanhe, derramando o líquido nas espumas do mar e pétalas de rosas brancas que eram atiradas nas águas enquanto as orações, pedidos e agradecimentos eram feitos. Tanto a garrafa quanto o caule com os espinhos eram descartados no local correto, deixando a praia limpa.

Talvez ele tivesse razão naquela época, mas e hoje? O que diria Capitão Pessoa vendo que todo ano centenas de terreiros organizam caravanas até as praias de todo o Brasil para realizarem suas oferendas, utilizando barquinhos, espelhos, perfumes e uma série de outros utensílios “ofertados” à Iemanjá que, no dia seguinte, serão encontrados de volta à praia e estamparão a capa de vários jornais em todo o Brasil?

Fica difícil dizer que os umbandistas não estão sujando as praias, certo? Pois este é o ponto desta reflexão. Se você se encontra entre os que vão pular sete ondas, vestido de branco, fazendo seus pedidos, batendo cabeça nas areias da praia, onde depositará sua fé, seus agradecimentos e pedidos, faça isso de forma responsável, sem deixar resíduos na praia.

Além de ser totalmente incoerente deixar sujeira num ponto de força, tal prática atrapalha a vida dos banhistas e contribui para aumentar a intolerância em torno da Umbanda.

É claro que as sujeiras deixadas na praia não são produzidas apenas pelos umbandistas. A multidão inconsciente também festeja de forma inconsequente, abandonando garrafas, latas, embalagens etc. O ponto é que num mundo de incompreensões, os religiosos são chamados a marcharem na contramão, por fé ou por razão.

Leonardo Montes

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