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Numa noite fria de
Maio, uma senhora que aparentava idade bem avançada sentou-se para tomar passes
com a Vovó Maria. Cumprimentou a entidade e o cambone, recebeu o passe e em
seguida ouviu:
- Fia, suncê ainda há
de viver maisi um cado grande nessa terra!
A velhinha num
suspiro surpreendente, disse:
- Ah, não... Mesmo,
vó?
Aquela resposta
deixara Maurício, que cambonava a entidade, surpreso. Afinal, que pessoa recebe
a notícia de que irá viver mais tempo e responde dessa forma?
- É zifia... – respondeu
a bondosa entidade.
Como se desejasse
algum desabafo, a velhinha vira-se para Maurício e prossegue:
- É que amanhã fará
um ano que meu marido morreu e eu sinto muita falta dele... Fomos casados por
61 anos e nunca brigamos, acredita? Nenhuma discussão, nenhuma briga.
A entidade, em tom
amoroso, interfere dizendo:
- É verdade zifia,
vosso cumpanheiro era um homi de coração muito bão e do lado de cá tá muito
arto, bem arto, cheio de luz!
A velhinha com os
olhos marejados, diz:
- É... Não tenho
dúvidas de que meu Geraldo deve estar muito bem, pois era um homem muito bom e
caridoso. Eu agora espero a minha vez... Já tenho 84 anos, o que tinha para
aprender ou já aprendi ou não aprendo mais... Já vivi o que tinha de viver, quero
agora é ir embora encontrar o meu Geraldo!
A bondosa preta-velha
toma-lhe as mãos, beija-as e diz:
- Zifia, suncê tem de
cumpri o tempo que o Pai mandou. Aí suncê há de encontrá o cumpanheiro nas
artura. Maisi tem que esperá um cado ainda, entendeu, zifia?
Resignadamente, a
velhinha balançou a cabeça afirmando que sim...
Naquela noite Maurício demorou
mais do que de costume a pegar no sono.
Leonardo Montes
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